segunda-feira, 10 de março de 2008

Livro conta vida e obra de Freud


O livro descreve o trabalho de Freud com Charcot, médico francês que usava hipnotismo para tratar pacientes de histeria, e como, a partir de suas pesquisas, chegou ao conceito do "inconsciente" e tentou desvendar seu funcionamento. Aborda o estudo da sexualidade infantil e a formulação do complexo de Édipo, além da libido, a neurose, a perversão e o desenvolvimento da psicanálise.


O texto mostra como Freud chegou à idéia de mal-estar da civilização após observar a Primeira Guerra e discute a evolução da psicanálise a partir dos discípulos de Freud. A linguagem clara esmiuça os principais conceitos da psicanálise para estudantes e o leitor comum.


Introdução:


for one who'd lived among enemies so long:if often he was wrong and, at times, absurd,to us he is no more a personnow but a whole climate of opinion


daquele que viveu por tanto tempo entre inimigos:se muitas vezes estava errado, e às vezes era absurdo,para nós já não é mais uma pessoa,mas todo um clima de opinião
W.H. Auden, "In Memory of Sigmund Freud"(novembro de 1939)


Confira o primeiro capítulo:


O que diferencia a cria de uma mamífera como a leoa, por exemplo, de uma criança, um bebê recém-nascido? Quem sabe? A pergunta pode parecer impertinente, uma vez que são visíveis e muito distintas as características de uma criança e de um leãozinho. O recém-nascido humano não tem a mesma pele, nem o mesmo corpo, nem as mesmas feições de um filhote de leoa, como sabemos. Isso é óbvio. Mas também é óbvio o fato de que, ao nascer, ambos dependem da mãe para ser alimentados e protegidos. Então, em que diferem esses dois mamíferos desde aquela tenra idade, na qual a cultura humana nada significa para o filhote de homem?
O que explica, por exemplo, que uma criança, mesmo bem alimentada, satisfeita em suas necessidades biológicas elementares, seja capaz de sugar horas a fio uma chupeta, de onde não sai leite nenhum, e se entreter com isso - hábito que, seguramente, não entreteria nenhum bicho?
A teoria elaborada por Freud explica essa diferença essencial que existe desde o início entre o mamífero humano e os demais. Qual seja: além da necessidade biológica, física, de se alimentar para sobreviver, o homem nasce com a capacidade de sentir prazer em várias partes de seu corpo, e a vivência que tem dessa capacidade é tão importante para seu desenvolvimento quanto o alimento. Os mecanismos pelos quais o ser humano experimenta aquela capacidade de ter prazer são o ponto de partida da teoria de Freud. Ela demonstra como a história de cada indivíduo é não só inseparável da vivência do prazer --que tem origem biológica, no sistema nervoso central--, mas determinada por ela.
O modo de convivermos com a satisfação e a frustração de nossos desejos define quem somos, além de nos diferenciar dos outros mamíferos desde o nascimento. Molda a civilização humana e é condição de seu surgimento. É disso que este livro pretende tratar.
A maneira pela qual Freud desenvolveu suas idéias, entre o final do século 19 e grande parte do século 20, marcou definitivamente o pensamento contemporâneo. Aqui serão apresentados os tópicos principais desse desenvolvimento, desde as origens da teoria freudiana da mente, a partir da medicina biológica. Freud foi originariamente médico neuropatologista e neurologista clínico; naquele tempo, dividia suas atividades, sendo pesquisador em laboratório de neuroanatomia e médico de doenças nervosas em consultório. Seu trabalho com pacientes histéricos permitiu a descoberta da origem psíquica dos sintomas deles, levando-o em seguida à descoberta do inconsciente, força motivadora e determinante do comportamento humano. A interpretação dos sonhos, a sexualidade das crianças e seus desdobramentos no adulto, o reconhecimento da existência de desejos sexuais e da ambivalência dos afetos infantis em relação aos pais (o complexo de Édipo) são igualmente tópicos importantes a tratar. A invenção de um método terapêutico --a psicanálise--, para a investigação e tratamento das neuroses e depois, por extensão, de outros distúrbios mentais, constitui outro grande tema.
Serão vistas também as conseqüências das descobertas freudianas na cultura e no comportamento humano em geral. Freud não inventou somente um método de investigação da mente e de tratamento psicológico por meio da palavra; ao fazê-lo, contribuiu também para mudar definitivamente a maneira de os homens se pensarem e compreenderem o mundo, conferindo importância central à dimensão simbólica e histórica de todo comportamento.
Ao contrário do que geralmente se supõe, as idéias de Freud se difundiram com grande rapidez nos principais países do Ocidente, gerando controvérsias e conflitos nos meios médicos e universitários, como é comum a todo pensamento novo. No Brasil, por exemplo, embora estivéssemos tão distantes da Europa, Juliano Moreira (1873-1933), professor da Faculdade de Medicina da Bahia, no remoto ano de 1899, menciona a seus alunos os trabalhos do dr. Sigmund Freud, de Viena. Moreira pode ser considerado o precursor do movimento psicanalítico em nosso país. Em 1928, fundou uma Sociedade Psicanalítica no Rio de Janeiro. Já Franco da Rocha (1864-1933) faz em 1919 conferências sobre psicanálise na Faculdade de Medicina de São Paulo. Sua influência foi decisiva para que Durval Marcondes (1899-1981), jovem médico paulista, se tornasse o pioneiro na formação e desenvolvimento da psicanálise clínica no Brasil 1.
As idéias de Freud têm tido entre nós uma presença considerável, não só na área médica e psicológica, mas também, e principalmente, nas universidades e no meio cultural. Na verdade, desde o movimento modernista, idéias psicanalíticas estão presentes, de modo marcante, em nossa produção cultural. Esse é, contudo, um tema que por si só mereceria outro livro. Portanto, não será desenvolvido aqui 2.


Fonte- Folha Online

2 comentários:

Silvia Quevedo disse...

Está bacana, Ellen, uma proposta bonita, interessante, com conteúdo.
Falta atualizar e deixar o texto mais jornalístico. Demora-se muito para saber o nome do livro, no caso dessa matéria. Aliás, tenho dúvida sobre ele...
mamífera não existe, tens que usar mamífero fêmea...
Diminua um pouco os textos e... aproveite!!!!
Não esqueça de nossa próxima avaliação!
Beijos, Silvia

Silvia Quevedo disse...

Bem, Ellen, falta de tempo?
Seu blog está bem legal, mas não houve atualização. Sua nota é 5.